sexta-feira, 25 de julho de 2014

Khaled Meshall, líder do Hamas, concede entrevista à BBC

Fonte: BBC
Hoje a BBC Brasil publicou em seu site uma entrevista com o líder do Hamas Khaled Meshaal, que hoje vive no Catar. Ele deu uma longa entrevista sobre o conflito entre palestinos e israelenses na Faixa de Gaza.

Como a entrevista é muito longa, destaquei os trechos que acho mais importantes. 

Os interessados na entrevista na íntegra poderão acessá-la no site da BBC Brasil.

BBC: Por quanto tempo o senhor está preparado para ver esse conflito continuar?
Khaled Meshaal: O sofrimento e a catástrofe humanitária são a essência do Estado de Israel. Nós somos as vítimas. Espero que esse confronto acabe o mais rápido possível. Essa é uma guerra que Netanyahu [...] lançou contra Gaza sem qualquer justificativa. [...] Ele quis se vingar de Gaza e agradar seus oponentes políticos usando para isso o sangue palestino.
BBC: Por quanto tempo o senhor está preparado para ver esse conflito continuar mesmo depois de uma trégua?
Khaled Meshaal: Não rejeitamos nenhuma iniciativa que atenuasse o ataque e o cerco a que somos submetidos. O que nos ofereceram foi um cessar-fogo que, pelo contrário, fortaleceria o bloqueio [...]
BBC: O senhor defende o fim do bloqueio a Gaza. Mas uma trégua não seria a melhor opção nesse momento?
Khaled Meshaal: Não. Essa é a posição dos moradores de Gaza, do Hamas, da Jihad Islâmica, da Frente Popular e dos palestinos em geral. [...] Queremos que, em primeiro lugar, esse bloqueio seja suspenso. Os bancos mundiais vêm pressionando os bancos palestinos para não enviar dinheiro a Gaza. Os moradores de Gaza estão morrendo. Imagine a Grã-Bretanha – a maior ilha do Atlântico – sendo submetida a cerco semelhante. O que os britânicos fariam?
BBC: Mas o senhor é acusado de deliberadamente colocar em perigo a vida de palestinos na Faixa de Gaza.
Khaled Meshaal: Quem deve assumir a culpa pelo que está acontecendo? Os ocupantes, os colonos [...] Quando a Grã-Bretanha abrigou de Gaulle (o general francês Charles de Gaulle), que, usando a BBC, lançou uma guerra de resistência contra os nazistas de Paris, seria ele o responsável pela morte dos franceses? Ou simplesmente tentou apontar o caminho para liberá-los da ocupação nazista? [...] Tal como os sul-africanos, os palestinos querem viver sem ocupação, sem assentamentos. [...]
BBC: Qual seria então a justificativa para colocar foguetes em uma escola?
Khaled Meshaal: Sem sombra de dúvida, isso é mentira – olhe para Israel e veja onde estão os lançadores de foguetes de Gaza.
BBC: Eles estão em uma escola...
Khaled Meshaal: [...] Eles estão debaixo da terra e Israel não consegue atingi-los. No entanto, o governo israelense finge que essas armas estão em áreas civis para que continue atacando hospitais, mesquitas, torres e construções. Israel cometeu um massacre em Shujaiya e em Tufah. Nesta manhã (quinta-feira), o mundo testemunhou um novo massacre em Khuzaa. [...]
BBC: O Hamas instou a população de Gaza a proteger suas casas de "peito aberto". Isso é um ato sensato?
Khaled Meshaal: É assim que as famílias palestinas vivem. Os palestinos estão em sua própria terra. Um palestino construiu sua casa com o suor do seu próprio dinheiro. Os israelenses esperam que ele saia dela sem mais nem menos? O Hamas não dá ordens às pessoas que permanecem dentro de suas casas. O Hamas encoraja as pessoas a não ceder à pressão de Israel e mostra a cada palestino sua perseverança. [...] As vítimas não devem ser culpadas. A culpa deve recair sobre Israel [...]. Já são mais de 700 mortos do lado palestino. Muitos deles são civis. Enquanto isso, o Hamas se concentra em matar soldados israelenses. Essa é a diferença ética entre a resistência palestina e o ataque israelense.
BBC: O presidente de Israel, Shimon Peres, diz que nenhum Estado aceitaria terroristas emergindo de túneis para matar pessoas inocentes.
Khaled Meshaal: Algum país aceitaria um invasor que ocupa sua terra? Pois isso é o que Israel faz com a Palestina. [...] A crise e os problemas que os palestinos sofrem são todos decorrentes dessa ocupação. A lei internacional deve ser aplicada a Israel, à sua ocupação e a seus assentamentos. À sua matança irrefreável. [...]
BBC: Não há dúvida de que Israel tem um aparato militar muito superior ao do Hamas. Mas o Hamas lança foguetes indiscriminadamente contra Israel. Israel não teria o direito de se defender?
Khaled Meshaal: E o povo palestino cuja terra é ocupada por Israel e que está repleta de assentamentos? Não temos direito de nos defender? Por que só Israel tem o direito de se defender? [...] Metade da população palestina vive sob ocupação e outra metade em diáspora. [...] O mundo nos diz que devemos abraçar a democracia. Por que o mundo não respeita a democracia na Palestina quando o Hamas venceu as eleições?
BBC: Neste momento, as duas partes envolvidas nesse conflito parecem não querer ceder. O Hamas continuará lançando foguetes em direção a Israel? É essa a estratégia do grupo?
Khaled Meshaal: Nossa estratégia é recuperar a terra que nos foi roubada pelo invasor e estabelecer um Estado tal qual qualquer outro país independente do mundo. [...] nós lutamos por uma causa justa.
BBC: O que é preciso para o Hamas aceitar um cessar-fogo?
Khaled Meshaal: Nós queremos um cessar-fogo assim que possível. Mas isso tem de ser concomitante à suspensão do bloqueio contra Gaza. Essa é a demanda do povo. [...]
BBC: Os americanos estão tentando um acordo de duas etapas, que inicialmente envolva um cessar-fogo – e posteriormente contemple uma flexibilização do bloqueio a Gaza. Qual é a sua opinião sobre isso?
Khaled Meshaal: [...] Gaza faz parte da Palestina. Nossa população é de 1,8 milhão de pessoas. Elas precisam viver sem um bloqueio. Nós queremos um aeroporto, um porto, nos abrir ao mundo. Não queremos ser controlados toda vez que cruzamos a fronteira, o que nos torna a maior prisão a céu aberto no mundo. As pessoas não podem comprar medicamentos ou trabalhar. [...]
BBC: Mas dizer que não importa e que vocês simplesmente vão continuar a resistir parece quase suicida.
Khaled Meshaal: Quando você se aferra ao seu direito está cometendo suicídio? Nós somos submetidos à vontade de Israel. Todos os povos do mundo lutaram batalhas desiguais. Os vietnamitas. Ou na África do Sul. Os franceses enfrentaram os nazistas, e foram vitoriosos. Eles lutaram por seus princípios de liberdade e dignidade. As pessoas não lutam somente porque a balança de poder está a seu favor. O poder está sempre com o ocupante. Mas o povo vence.
BBC: Qual é a estratégia do Hamas? É somente recorrer à violência e acreditar que no fim esses instrumentos podem dar o que vocês chamam de liberação? Vocês realmente acreditam nisso?
Khaled Meshaal: Temos um objetivo e temos os meios de alcançar isso. O objetivo é o direito à autodeterminação, a colocar um fim à ocupação israelense, aos assentamentos judaicos e à agressão. Temos três escolhas. Nós preferimos a escolha pacífica. Somos forçados a recorrer à via militar. Por anos o povo palestino vem tentando a solução pacífica e não obtiveram nada da comunidade internacional. [...]
BBC: O senhor está falando sobre uma visão de longo prazo. Quando o senhor acha que o atual conflito em Gaza vai terminar?
Khaled Meshaal: Se Deus quiser, espero que termine hoje à noite ou amanhã, mas como palestino gostaria que isso terminasse o mais rápido possível. Gostaria de dizer aos moradores de Gaza que eles avançaram politicamente. Mas deixe o presidente Obama e eu e Abbas e toda a liderança ajudá-los a colocar um fim na agressão, e então a comunidade internacional terá cumprido seu papel ético e humanitário.
Se você ainda está lendo até aqui, é porque tem muito interesse no tema. Então falarei algumas poucas palavras. Você deve estar cansado da leitura.

Quando escrevi bem recentemente um texto fazendo críticas ao Hamas, cheguei a pensar por um momento que havia exagerado nessas críticas. Mas após ver essa entrevista, percebi que não exagerei.

Realmente a luta do povo palestino é de se admirar bastante e é justa.

Porém a luta específica do grupo Hamas é bem diferente, pois além de lançar milhares de foguetes para tentar matar civis em Israel, pouco faz para proteger sua própria população.

Em vez de organizar abrigos e pedir que todos se refugiem neles, ligam para as pessoas e pedem para ficarem em casa, mesmo sabendo que as casas serão bombardeadas. É o cúmulo. Não tem como apoiar uma atrocidade dessas.

Uma coisa é resistir à ocupação e se manter na Palestina, sem fugir do país. Até aí tudo bem. Mas aconselhar a morrer na própria casa é de uma crueldade absurda.

Felizmente o Hamas é apenas um dos grupos políticos na Palestina e não o único. Assim ainda há esperanças para os palestinos. O Hamas infelizmente, ao ser tão cabeça dura e radical apenas põe em risco a própria população e a causa palestina.

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