Eric Hobsbawn foi um historiador judeu nascido em 1917 no Egito. Cresceu na Áustria, na Alemanha e depois foi morar em Londres, após a ascensão de Adolf Hittler.
Hobsbawn escreveu os livros "A era das revoluções (1789-1848)", "A era do capital (1848-1875)", "A Era dos Impérios (1875-1914)" e "A era dos extremos (1917-1991)".
Ele faleceu em 1o de outubro de 2012 aos 95 anos.
O texto abaixo foi escrito por Hobsbawn em 2008, depois que Israel fez uma incursão por terra sobre a Faixa de Gaza, matando milhares de palestinos:
Apesar de ter sido escrito há 6 anos, o texto continua muito atual.
Resposta para a guerra em Gaza
Já fazem três semanas que a barbárie está exposta à opinião pública universal, que assistiu, julgou e, com poucas exceções, rejeitou o uso do terror militar de Israel contra um milhão e meio de habitantes cercados, desde 2006, na Faixa de Gaza. Nunca as justificativas pela invasão foram mais patentemente refutadas pela combinação de câmeras e números; ou a novilíngua dos “alvos militares” pelas imagens de crianças cheias de sangue e escolas queimando. Treze mortos em um lado, 1.360 no outro: não é difícil calcular qual lado é a vítima. Não há muito mais a dizer sobre a operação terrorista de Israel em Gaza
Exceto para aqueles de nós que são judeus. Em uma longa e insegura história como um povo em diáspora, nossa reação natural aos eventos públicos incluem inevitavelmente a pergunta: “isso é bom ou ruim para os judeus?”. Neste caso, a resposta é inequivocamente: “Ruim para os judeus”.
Isto é patentemente ruim para os cinco milhões e meio de judeus que vivem em Israel e nos territórios ocupados de 1967, cuja segurança é comprometida pelas ações militares que os governantes israelenses tomam em Gaza e no Líbano; ações que demonstram sua inabilidade em atingir seus objetivos declarados e que perpetuam e intensificam o isolamento de Israel em um Oriente Médio hostil. Desde o genocídio ou a expulsão em massa dos palestinos do que resta da sua terra nativa não há mais nada da ordem do dia do que a destruição do Estado de Israel, apenas coexistência negociada em termos igualitários entre os dois grupos pode prover um futuro estável. Cada nova aventura militar, como as em Gaza e no Líbano, vai tornar tal solução mais difícil e vai fortalecer a mão da direita de Israel e dos colonos da Cisjordânia que nem querem isso, em primeiro lugar.
Como no Líbano em 2006, Gaza escureceu as perspectivas para o futuro de Israel. Também escureceu as perspectivas para os nove milhões de judeus que vivem na diáspora. Sem rodeios: criticar Israel não implica anti-semitismo, mas as ações do governo de Israel trazem vergonha ao povo judeu e, mas do que qualquer outra coisa, originam o anti-semitismo atual. Desde 1945 os judeus, dentro e fora de Israel, foram enormemente beneficiados pela consciência pesada de um mundo ocidental que recusou imigrantes judeus nos anos 1930 antes de, ou cometer genocídio ou não se opor a ele. Quanto dessa consciência pesada, que virtualmente eliminou o anti-semitismo do ocidente por sessenta anos e produziu uma era dourada para essa diáspora, ainda resta hoje?
Israel em ação em Gaza não é o povo que foi vítima da história, tampouco o “bravo pequeno Israel” da mitologia de 1948-67, um Davi derrotando os vários Golias que o cercavam. Israel está perdendo a boa vontade tão rapidamente quando os EUA sob o governo de George W. Bush e por razões similares: a cegueira nacionalista e a megalomania do poder militar. O que é bom para Israel e o que é bom para os judeus como um povo estão evidentemente ligados, mas, até que haja uma resposta justa para a questão palestina, as duas coisas não são e não podem ser idênticas. E é essencial para os judeus dizerem isso com clareza.
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