Faixa que foi à frente da marcha. (Foto: Paulo Chancey Junior) |
Realizei entrevistas com os organizadores nos dias anteriores da marcha e fui à marcha para filmá-la, afim de fazer um vídeo ou um mini-documentário sobre a realização da Marcha em maceió. Quando estiver pronto, publicarei no youtube.
O momento da concentração da Marcha
Logo que cheguei no local onde a marcha seria realizada, vi uns 4 carros da polícia e vários policiais no mesmo local onde estavam os manifestantes. Integrantes do Coletivo que organizou a marcha estavam discutindo com um representante da SMCCU (Secretaria Municipal de Controle do Convívio Urbano), pois não queriam deixar que a marcha ocorresse, pois os trâmites legais para realizar o evento não foram cumpridos a tempo.
Segundo os organizadores, há mais de 30 dias solicitaram a autorização da SMCCU, mas somente dois dias antes eles deram a resposta da solicitação, falando que não poderiam liberar o evento, pois ainda precisariam da autorização do Ministério Público, do Instituto do Meio Ambiente (por causa do carro de som), da SMTT e outros órgãos. Seria impossível conseguirem autorização de todos esses órgãos num fim de semana e por isso foram à marcha assim mesmo.
Momento de negociação com o representante da SMCCU (Foto: Rivângela Gomes/G1) |
Quando os manifestantes foram para a rua, o BOPE logo foi para a frente da pista e bloqueou-a com seus escudos. A rua ao lado foi bloqueada pela cavalaria da PM. Não haveria lugar para onde ir. Nesse momento, fiquei com muito medo que a polícia resolvesse atacar a manifestação e dispersá-la. Foram sérios momentos de tensão.
Momento em que o BOPE fechou a pista. (Foto: Rivângela Gomes/G1) |
Felizmente o bom senso tomou conta do representante da SMCCU e ele autorizou que os manifestantes usassem uma faixa para o protesto. Os policiais saíram do caminho e os manifestantes usaram as duas faixas da direita da orla.
O carro de som foi impedido de seguir com eles e ficou retido no ponto inicial da Marcha.
Os manifestantes caminharam desde o antigo Alagoinha, na praia de ponta verde até o Posto 7, de maneira totalmente pacífica, gritando palavras de ordem, reivindicando à legalização da maconha e cantando músicas como "Eu.... Sou maconheiro, com muito orgulho, com muito amor!".
Nenhuma ocorrência de confusão foi registrada, mostrando que a presença de tamanho policiamento, inclusive do BOPE era um exagero.
Manifestantes iniciar a caminhada. (Foto: Rivângela Gomes/G1) |
(Foto: Igor Monteiro) |
Lá no Posto 7 houve a apresentação de 3 grupos musicais: Macacos Sound System, Biografia Rap e Família 33. Tudo ocorreu tranquilamente, não presenciei brigas, nem qualquer tipo de confusão.
Felizmente a primeira Marcha da Maconha de Maceió foi realizada com sucesso, apesar do pequeno grupo de integrantes do Coletivo que a organizou, do baixíssimo orçamento para a realização e da tentativa que houve dos governos do estado e da prefeitura em impedir a realização.
Sobre apologia e uso de maconha na Marcha
Por muita sorte a polícia não interveio, pois no dia anterior, numa matéria na Gazeta de Alagoas, a polícia havia deixado claro que ia deixar a manifestação ocorrer, mas que se houvesse o uso de maconha ou de qualquer outra droga ilícita, eles iriam prender quem estivesse usando e encaminhar para a central de flagrantes.
Hoje já é legal realizar uma manifestação pedindo a legalização de uma substância ilegal como a maconha. O que é ilegal é fazer apologia do uso da substância ou consumí-la durante a marcha.
Na marcha de ontem, houve apologia, houve uso de maconha e inclusive houve muitas falas de provocação contra a polícia, que seriam motivos de sobra para a polícia intervir, se assim desejassem. Felizmente o bom senso tomou conta de alguma autoridade da polícia, que preferiu não intervir e causar um grande tumulto.
Provavelmente o fato de estarem na área nobre da cidade, em que frequentam muitos turistas, pode ajudar a explicar também o fato de a polícia não ter feito uma intervenção. Quando o gás lacrimogêneo fosse parar nos apartamento luxuosos da beira da praia ou quando um turista fosse atingido por uma bala de borracha, a repercussão seria péssima.
A importância da Marcha
A realização da Marcha da Maconha tem o objetivo de pedir a legalização da venda e do uso da maconha, assim como a legalização do plantio da maconha para consumo próprio dos usuários.
Como a maconha é a droga ilícita mais utilizada e dentre as que são ilícitas é relativamente bem mais leve que outras drogas como a cocaína, a heroína ou o crack, é estratégico que seja feita a legalização como forma de combater o narcotráfico.
O tráfico não irá acabar com a legalização da maconha, pois sempre haverá outras drogas ilícitas a serem vendidas. Porém, a legalização resultará num grande golpe sobre o tráfico, pois perderão o mercado da droga mais consumida no país. Será um grande golpe sobre o faturamento dos traficantes, que é a principal força dos mesmos.
A maconha hoje está sendo a porta de entrada para a cocaína e para o crack, por causa da proibição, que faz com que o tráfico tenha o monopólio da venda do produto. Se os milhões de usuários de maconha brasileiros puderem comprar a maconha numa farmácia, num bar ou mesmo puderem plantá-la em casa, eles estarão menos vulneráveis à oferta de drogas mais pesadas como a cocaína e o crack, pois não precisarão do contato com o traficante para adquirir a maconha.
Manifestantes com cartazes de protesto. (Foto: Paulo Chancey Junior) |
Como disse o presidente do Uruguai, José Mujica: os problemas que o narcotráfico causa na sociedade são muito piores do que os efeitos da maconha.
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Caso tenha gostado deste tema, recomendo que leia algum dos seguintes textos abaixo:
Para combater o narcotráfico, a maconha deveria ser legalizada (02/12/2013)
Uma mãe ganhou o direito de tratar sua filha com remédio a base de maconha (06/04/2014)
O deputado Jean Wyllys cria projeto de lei para legalizar a maconha (22/03/2014)
Tropa de choque invade a UFSC por alguns cigarros de maconha (28/03/2014)
Entrevista de José (Pepe) Mujica na BAND feita em 30/03/2014