segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Para combater o narcotráfico, a maconha deveria ser legalizada

Primeiramente tenho que dizer que detesto cigarros. Nunca gostei e creio que nunca vou gostar. Tenho ódio de sentir aquela fumaça fedorenta e sempre que me encontro num local com pessoas fumando, procuro ficar distante delas.



Antigamente quando eu refletia a respeito da legalização da maconha, minha opinião era que isso nunca deveria acontecer e que deveriam proibir até o cigarro comum, para eu me livrar daquele mal cheiro que me perseguia em muitos lugares.

Conforme passei a me informar a respeito do assunto, minha opinião começou a mudar. Percebi que a proibição da venda de maconha, apesar de ser benéfica para mim, era algo terrível para a sociedade como um todo.

Hoje quando uma pessoa quer comprar uma droga lícita, como uma bebida alcoólica ou um cigarro (sim eles também são drogas), ela procura um supermercado ou um bar. Nesses locais ela terá contato apenas com esses dois tipos de droga e não haverá ninguém para oferecer drogas mais pesadas como a cocaína, o ecstasy, o LSD ou o crack. Já a compra da maconha ocorre de uma forma bem diferente, pois é necessário procurar um traficante, que além de vender maconha, também vende essas drogas mais pesadas, que podem causar forte dependência e em alguns casos até a morte.


Porta de entrada para drogas mais pesadas?

Um dos principais argumentos contra a legalização da maconha é o que afirma que ela é a porta de entrada para as outras drogas mais pesadas. Dizem que se você consumir maconha hoje, amanhã você irá consumir cocaína e em seguida estará no crack.


Esse pensamento é um pouco equivocado, pois o que é a porta de entrada para as drogas mais pesadas não é a maconha e sim o contato com o traficante. Se os usuários de maconha a comprassem num bar, num supermercado ou na venda da esquina, dificilmente iriam preferir comprá-la de um criminoso armado, arriscando-se a serem presos. Ao comprar a droga num estabelecimento que apenas vende álcool e cigarros, essa pessoa ficaria afastada das ofertas de drogas mais pesadas.

Muitos pensam que se uma droga for proibida, as pessoas deixarão de consumí-la. Infelizmente isso não ocorre. Se hoje resolvessem proibir o cigarro, o que aconteceria? Os viciados em cigarro deixariam de fumar ou passariam a comprar os cigarros de traficantes?

Nos Estados Unidos, entre 1920 e 1933, foi totalmente proibida a fabricação e a venda de bebidas alcoólicas. Em vez de causar o fim do consumo da bebida, as pessoas deixaram de comprar no bar da esquina para comprar nos bares clandestinos. Houve o aumento da criminalidade e o enriquecimento de mafiosos, como o Al Capone, que absorveu parte desse riquíssimo mercado.

Da mesma forma, os traficantes lucram bastante com a venda de maconha, pois é a droga ilícita mais consumida e é leve, permitindo que os usuários consumam durante muito tempo. É um mercado com altíssimo potencial de lucro, que hoje está concentrado nas mãos de criminosos que também se envolvem muitas vezes em tráfico de armas e diversos outros crimes.


Na Holanda o comércio da maconha é legalizado

Em 1976, a Holanda mudou sua legislação sobre drogas e passou a permitir o uso de drogas leves como a maconha e o haxixe em locais credenciados (bares e coffee shops). A lei tem como base a diferenciação entre drogas com risco aceitável e drogas com riscos inaceitáveis para a saúde e segurança pública, como a cocaína, heroína, LSD e outras. A venda de maconha em locais não autorizados continua sendo crime e é proibido o consumo na rua, ou seja, você compra a maconha e consome ali mesmo no bar ou em casa. O comércio de todas as outras drogas é expressamente proibido e punido com até 12 anos de prisão e multa.


Coffee Shops para consumo de maconha na Holanda

As drogas na Holanda - senado.gov


Retirar o comércio das mãos do crime organizado

Algo muito importante a ser considerado por qualquer país que planeja legalizar a venda e o consumo da maconha, é que não basta legalizar, é necessário regulamentá-la e retirá-la das mãos do crime organizado.

Além das medidas aplicadas na Holanda, que permitem a venda exclusivamente em locais credenciados, outra medida interessante seria permitir que o usuário pudesse plantar maconha em vasos em sua casa, até uma quantidade limitada. Dessa forma, ele iria plantar apenas para o seu consumo e não estaria financiando o crime organizado. Acho difícil que alguém preferisse pagar caro e correr sérios riscos comprando maconha de um traficante, podendo plantá-la em sua própria casa e ter acesso a ela baratinho.

G1: Casal foi preso por ter 5 pés de maconha em casa


O Uruguai está prestes a estatizar o comércio de maconha

Faltando apenas a votação no senado, o Uruguai está muito próximo de aprovar o projeto de lei que regulamenta o monopólio do Estado sobre a produção e o comércio de maconha, algo inédito no mundo. Aqueles que quiserem consumir a maconha terão de se cadastrar para poder comprar mensalmente até uma quantidade máxima permitida de cigarros. Com isso pretendem tentar afastar os usuários de maconha dos narcotraficantes. Hoje o Uruguai possui 3,95 milhões de habitantes e em torno de 200 mil consumidores de maconha, ou seja, 5% da população.


"Não defendo a maconha, gostaria que ela não existisse. Nenhum vício é bom. Vamos é regular um mercado que já existe. Não podemos fechar os olhos para isso. A via repressiva fracassou.

[...] Pedimos ao mundo que nos ajude a fazer essa experiência, que nos permita adotar um experimento sócio-político diante de um problema grave que é o narcotráfico. O efeito do narcotráfico é pior que o da droga. 
(Pepe Mujica, presidente do Uruguai, em entrevista à Folha de São Paulo em 01/12/2013)"

'Uruguai não terá fumo livre', diz Mujica - Folha de São Paulo


A proibição não inibe o consumo da droga

Uma pesquisa feita em 2009 pelo International Journal of Drug Policy ouviu 5 mil jovens entre 14 e 15 anos dos EUA, Canadá e Holanda, três países com diferentes políticas em relação ao consumo de maconha. Nessa época na Holanda era permitido o consumo para uso recreativo, no Canadá era permitido somente para uso terapêutico e nos EUA em 35 dos 50 estados a maconha era proibida para qualquer desses usos, outros 15 estados permitiam somente para uso terapêutico.

Infográfico: Uso medicinal da maconha nos EUA - Revista Veja

A pesquisa mostrou que nos três países, a quantidade de adolescentes que já haviam consumido maconha era muito parecida:
  • Nos EUA, 33% dos meninos e 26% das meninas.
  • No Canadá, 29% dos meninos e 20% das meninas.
  • Na Holanda, 32% dos meninos e 31% das meninas.
MACONHA: política severa não reduz o consumo - Terra

Essa pesquisa demonstrou que uma política severa não inibe o consumo e uma política de liberação não aumenta a quantidade usuários da droga. O argumento de que a legalização faria com que o consumo de maconha aumentasse é equivocado.

A proibição do comércio da maconha não inibe o consumo e ainda por cima fortalece o crime organizado. Já que, mesmo com leis mais duras, o consumo não vai acabar e a demanda pelo produto vai continuar alta, é muito mais sensato que os governos regulamentem o comércio da droga e retirem esse multimilionário comércio das mãos dos traficantes. Eles não vão falir por causa disso, mas terão muito menos poder financeiro se perderem os usuários de maconha, pois terão menos clientes para oferecer seus outros produtos. 

Se você é contra a regulamentação do comércio de maconha, saiba que os traficantes também são. Eles serão os maiores prejudicados com isso.

0 comentários:

Postar um comentário