quarta-feira, 2 de abril de 2014

Discussão sobre criação de vagões exclusivos para mulheres em trens e metrôs


O tema do assédio sexual de mulheres nos metrôs e trens tem sido muito discutido nas últimas semanas. Somente na cidade de São Paulo já foram registradas 29 denúncias neste ano. A prática certamente ocorre com muito mais frequência, pois a maioria das vítimas não denuncia os abusadores.

Abaixo segue uma notícia sobre o tema da criação de vagões exclusivos para mulheres nos trens e metrôs. Em seguida irei comentá-la:
Uma página no Facebook, hoje fora do ar, causou alvoroço no Brasil há algumas semanas. Com mais de 12 mil seguidores, ela enaltecia o abuso sexual a mulheres no transporte público e incentivava os homens a compartilhar suas experiências.

Somente neste ano, já foram registrados 29 casos na cidade de São Paulo. [...] O problema já levou Rio e Brasília a criarem vagões exclusivos para mulheres. Outras cidades, como Belo Horizonte, cogitam fazer o mesmo. [...]

Sonia Coelho [da ONG Sempreviva Organização Feminista] não considera o vagão como uma opção para combater o assédio sexual no transporte público. "Não ajuda em nada um vagão para as mulheres, considerando que essa é uma medida de segregação, porque mais protege o machismo do que defende as mulheres do assédio". [...]

Nadine Gasman, representante da ONU Mulheres no Brasil afirma que "Sem dúvida, é uma medida bem-vinda, mas ela é paliativa e deve ser temporária, pois, em certo sentido, reforça a segregação entre os gêneros e transmite a mensagem de que mulheres e homens não podem conviver de maneira civilizada e respeitosa no espaço público e nos meios de transporte coletivo". [...]

O Metrô e a Companhia Paulista de Trens Metropolitanos afirmaram que não tem a intenção de criar vagões exclusivos e reforçaram que possuem estratégias de segurança que contam com o monitoramento por câmeras, além de funcionários uniformizados e à paisana patrulhando os veículos e estações.
No Rio de Janeiro há sete anos foi implantado o chamado "vagão rosa", que é exclusivo para mulheres. O objetivo da criação desse tipo de vagão não foi o de separar os homens das mulheres, mas de oferecer às mulheres uma opção de viagem sem se preocupar com assédio dos homens. A entrada de homens no vagão é proibida e de mulheres é opcional.

O ideal seria que não existisse qualquer necessidade de vagões desse tipo, mas a realidade hoje não é essa. Muitas mulheres reclamam de abusos cometidos por homens em transportes públicos lotados e o problema não será resolvido facilmente. 

Antes de discutir o assédio em si, é importante discutir sobre as condições que contribuem para que ele exista.

Lembro de quando eu pegava um ônibus no centro de Maceió de volta para casa após um dia de trabalho. Era no pior horário e todos sabiam que não haveria lugares para todos. Um empurra-empurra se iniciava e muitas caras feias se formavam e às vezes até um bate-boca que parecia que resultaria em briga. 

O simples fato de as pessoas imaginarem que farão uma viagem de mais de uma hora, em pé, após um dia estressante de trabalho, faz despertar o que há de pior nelas.


Nos dias em que eu saia mais cedo, o ônibus não chegava com muita gente e havia vagas para todos. Ninguém empurrava ninguém e ninguém agia de maneira rude ao subir no ônibus. O problema que relatei no parágrafo anterior simplesmente não existia.

Da mesma forma, quando há uma quantidade enorme de pessoas andando em trens lotados, isso faz com que todos fiquem amontoados, favorecendo bastante a atuação desses homens que assediam outras pessoas se esfregando nelas.

A forma mais eficaz de resolver esse problema do assédio seria investir mais no transporte público, para que houvesse mais trens, mais metrôs, mais ônibus, para que todos pudessem viajar sentados em seus lugares. Isso eliminaria em mais de 90% os casos de assédio no transporte público.

Infelizmente, não vemos nos dias de hoje muita disposição das prefeituras e governos estaduais na criação de transportes públicos eficientes e de qualidade, com raras exceções. No caso específico de São Paulo, o governo estadual está sendo acusado de superfaturar as obras dos trens e metrôs em 30%.

Dado que há pouca expectativa de melhoria nos transportes coletivos a curto prazo, eu não consigo ver problema algum na criação de vagões exclusivos para mulheres, principalmente se forem opcionais.

Alguns dizem que isso vai "segregar a vítima", ao invés do agressor, mas nós não sabemos quem são os agressores quando eles entram nos trens. Estes correspondem a uma pequena quantidade de homens e não faz sentido pegar todos eles e jogar em vagões separados.

O vagão exclusivo é uma maneira de proteger aquelas mulheres que não aguentam mais assédio no trem e que querem viajar sossegadas. É claro que continuarão viajando em pé e imprensadas umas nas outras, mas pelo menos não estarão imprensadas com homens que poderão passar a mão ou o pênis na bunda delas.



Esses "encoxadores" não vão mudar de atitude de uma hora para outra. Por isso são necessárias campanhas de conscientização e de intimidação com relação a esses atos. É preciso que saibam que o que fazem é desrespeitoso, é errado e que serão punidos por isso. Ao serem descobertos, além de passarem vergonha em público, poderão ser presos. Esse tipo de ação é importante para que os homens pensem duas vezes ou mais antes de assediar uma mulher dessa forma.

Por agora, o vagão exclusivo para mulheres nos grandes centros urbanos é importante e necessário, enquanto o transporte público continuar tão lastimável.


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