domingo, 16 de março de 2014

O desabafo de um professor que queria apenas ser ouvido em sala de aula


Há poucos dias, o professor de português e literatura Edson Amaro de Souza, da rede estadual de ensino do Rio de Janeiro, fez um grande desabafo em sua conta pessoal no facebook. Ele reclamou do quanto estava insuportável dar aulas. 

O problema desta vez não era o salário, nem a infraestrutura dos colégios onde trabalha. Tudo que ele queria era simplesmente que os alunos demonstrassem o interesse em aprender. Algo que para ele parece cada vez mais raro em suas turmas. 

Edson estava tão desesperado para mudar de profissão que, dois dias antes de postar esse desabafo no facebook, se inscreveu num curso técnico de solda naval, que terá a duração de um ano. "Lavar pratos é mais digno do que falar sozinho. [...] o motivo da minha depressão é não encontrar quem se disponha a ouvir o que tenho a dizer. Me recuso a fazer terapia. Prefiro procurar emprego".

Segundo Edson, o SEPE (Sindicato Estadual  dos Professores da Educação do RJ) talvez realize uma greve em 2014, da qual ele não está com vontade de participar. "O reconhecimento vale mais do que o dinheiro [...]  eu não tenho motivo para fazer greve, porque ela não vai mudar em nada a realidade que eu descrevo e que me fez decidir abandonar o magistério na primeira oportunidade. [...] Mesmo que o governo estadual me desse um aumento de 300% eu continuaria não tendo dignidade." conta Edson.

Ele contou que, nos seus 9 anos como professor, já passou por situações bem difíceis. Uma vez foi ao banheiro e alguns alunos colocaram álcool dentro de sua garrafa de água, que havia deixado em cima da mesa. Em duas outras ocasiões colocaram corretivo (liquid paper). Houve até um dia em que alguns alunos jogaram pedras nele, dentro da sala de aula, enquanto ele escrevia no quadro.

Confira abaixo o desabafo de Edson no facebook:


Hoje conversei com o Edson e ele me disse que agora está mais calmo. Contou que aquelas palavras saíram num momento de grande depressão e instabilidade emocional. Ele iniciou o curso de solda naval, mas viu que aquilo não era bem o que queria. Agora, mais calmo, vai cancelar a matrícula no curso, feita naquele momento em que estava se sentindo tão mal. 

Esse drama não é vivido apenas pelo professor Edson. Hoje, com tanto acesso a entretenimento, que chega às crianças e aos adolescentes em tantas mídias, não é nada fácil para um professor chamar a atenção dos alunos. 

Nos dias de hoje, em que a literatura mais lida consiste em livros como Harry Potter, Crepúsculo e 50 tons de cinza, é muito difícil prender a atenção dos alunos com livros de autores clássicos como Clarice Lispector ou Manoel Bandeira, mencionados pelo professor.

Para prender a atenção desses jovens, os professores terão de se reinventar e buscar atraí-los por outros caminhos...


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