sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Entrevista concedida ao Coletivo de comunicadores de periferias

Abaixo a íntegra da matéria publicada no site Periferia em Movimento.

No dia 22 de janeiro de 2012, um domingo, o Brasil acordou com cenas violentas da remoção de quase 6.000 pessoas – incluindo crianças e idosos – do Pinheirinho, uma comunidade que surgiu a partir da ocupação de um terreno vazio sete anos antes, em São José dos Campos (SP).

A brutalidade da polícia com os moradores, com bombas de gás lacrimogêneo e cacetadas no lombo de muitos civis, foi motivo de críticas ao governo paulista. Ainda assim, nenhuma família permaneceu no local e todas as casas, igrejas e pequenos comércios vieram abaixo.
Um ano depois, Fabiano Amorim lança no Youtube o documentário “Derrubaram o Pinheirinho”.
Fabiano não é jornalista, cineasta ou documentarista. O analista de sistemas, que mora em Maceió (AL), se sentiu impotente diante da ação policial para remover as famílias do terreno da empresa Selecta, do empresário Naji Nahas.
“Não conseguia acreditar que um absurdo daqueles estava acontecendo no Brasil e a imprensa dava tão pouca atenção àquilo”, diz ele, em entrevista ao Periferia em Movimento.
“No Youtube, é que apareceram as cenas realmente terríveis. Vi cenas absurdas de violência dos policiais, os moradores fugindo de medo, dentre outras”, conta.
No mesmo mês, Fabiano começou a pesquisar informações sobre Pinheirinho – de matérias em sites, reportagens e vídeos da internet. Levou mais 45 dias fazendo o roteiro e outros dois para catalogar as imagens. Para concluir o filme, mais quatro meses. Desempregado, Fabiano não viajou a São José dos Campos e fez todo o trabalho com base no que coletou nessas pesquisas – o que não diminui a qualidade do documentário.
Fabiano sintetiza em 1 hora e 25 minutos cerca de 20 anos de história que culminaram na expulsão dos moradores, em 2012.
Essas pessoas moravam desde 2004 num terreno abandonado há mais de 20 anos, em São José dos Campos. Esse terreno era de propriedade de uma empresa que havia falido em 1989, a Selecta, pertencente ao empresário Naji Nahas.
Em julho de 2011, a justiça ordenou que as famílias fossem retiradas de lá. Em 22 de janeiro de 2012, a Polícia militar do estado de São Paulo realizou a reintegração de posse, colocando todos os 6.000 para fora. A maioria deles saiu apenas com a roupa do corpo. No mesmo dia em que os moradores foram retirados do terreno, os tratores começaram a derrubar as casas com todos os pertences dos moradores dentro, o que é totalmente ilegal.
Essas pessoas além de perderem o teto, perderam tudo o que tinham, tudo o que compraram em quase 8 anos de trabalho. A maioria das famílias era bem pobre, com renda de até 3 salários mínimos, o que é bem pouco num estado com alto custo de vida como São Paulo, conforme aponta Fabiano.
“Hoje, a situação delas é muito pior que antes. Viviam em casas maiores no Pinheirinho, que construíram por conta própria. Agora recebem R$ 500 por mês para alugar uma casa, o que é muito pouco em São José dos Campos. A grande maioria dos aluguéis é mais alto que esse valor”, diz Fabiano. “Havia famílias de 10 pessoas morando numa casa no Pinheirinho. Dificilmente se consegue a um preço baixo alugar outra casa que os caiba”.
Fabiano lembra ainda que muitos perderam o emprego um pouco antes da reintegração, por faltarem ao trabalho para proteger o terreno. Alguns perderam depois, quando foram mostrados na TV como se fossem bandidos.
Como a Selecta deve R$ 14 milhões de IPTU e mais R$ 28 milhões em multas por não limpar o terreno e não cumprir com outras exigências da prefeitura, os líderes do Pinheirinho tentam desapropriar parte do terreno em conversas com o novo prefeito. Mas o documentário deixa claro que há outros interesses por trás, já que o terreno se valorizou exponencialmente nos últimos anos.
Enquanto isso, o governo estadual lançou em agosto o primeiro edital para construir as primeiras 1319 casas com previsão de conclusão das obras de até 3 anos.
“Os interesses econômicos dos mais ricos são sempre mais importantes que os direitos do restante da população. Como os governos são quase sempre financiados por grandes empresários, antes e depois de serem eleitos, acabam governando para eles. O caso do Pinheirinho mostra tudo isso na prática”, analisa Fabiano.
Os moradores do Pinheirinho só não estão piores hoje por causa de toda a mobilização nas redes sociais que levaram o caso a repercutir em várias partes do mundo, até na TV Al Jazeera.
“Quando só tínhamos os jornais, revistas e a TV para nos informar, casos como o do Pinheirinho ficariam totalmente ocultos. Receberiam uma notinha pequena no jornal. Hoje com a internet, assuntos ignorados pela mídia acabam chegando com toda força através das redes sociais, fazendo com que a grande imprensa seja obrigada a noticiar o fato, para que não a acusem de apoiar os agressores”, conclui Fabiano.

Para ler a matéria no site: http://periferiaemmovimento.wordpress.com/2013/02/08/especial-um-ano-apos-acao-no-pinheirinho-documentario-mostra-os-interesses-economicos-por-tras-da-desocupacao-das-familias/

Endereço do site deles: http://periferiaemmovimento.wordpress.com

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