Recentemente, ficamos sabendo que a China agora é a segunda maior economia do mundo, ou seja, o PIB (Produto interno bruto) chinês só é menor que o PIB dos Estados Unidos. Abaixo está uma reportagem da Globo sobre o assunto:
Há muito tempo vemos a China aumentando o seu PIB a taxas muito exageradas, de fazer inveja à qualquer super potência.
Mas por que a China cresce tão a mais que o resto do mundo? como explicar isso?
Há alguns detalhes sobre a China que muitos já ouviram falar:
O site oficial onde fala sobre o documentário pode ser acessado em: http://www.pbs.org/independentlens/chinablue/
Se quiser ver uma descrição em português do mesmo e quiser fazer o download desse documentário, acesse: http://docverdade.blogspot.com/2010/05/china-blue-2005.html. Há apenas a opção de download via torrent.
O que vi nesse documentário é algo muito triste. A personagem principal é uma adolescente chinesa de 17 anos chamada Jasmine. Ela morava com os seus pais no campo, mas precisou ir para a cidade, conseguir um emprego para ajudar no sustento da família.
Jasmine chega na cidade e está toda esperançosa de conseguir um emprego. Em pouco tempo ela consegue um emprego na fábrica de jeans "Lifeng". Essa fábrica produz jeans que são exportados para vários países do mundo.
Durante meses eles entrevistaram os integrantes da fábrica, coletando depoimentos e acompanhando as relações de trabalho existentes entre o dono e as operárias e também entre o dono e os clientes estrangeiros.
A fábrica possuía 750 funcionários. As operárias moravam num alojamento da própria fábrica, que ficava próximo da mesma. Dessa forma, nenhum operário se atrasaria para o trabalho, pois não perderia tempo algum no trânsito, levantando e indo direto para o trabalho.
Jasmine divide um pequeno quarto com mais 12 outras operárias. Várias são menores de idade. Uma das meninas possui apenas 14 anos. Essas menores trabalham com documentos falsos e a fábrica não está nem um pouco preocupada com isso.
A fábrica fornece a alimentação para as operários, mas ela não é gratuita. Cada refeição que eles fazem é descontada dos seus pagamentos, reduzindo ainda mais a pequena remuneração deles. As refeições não vinham temperadas e nem sequer havia um local para comerem. Elas pegavam a comida e iam comer em seus alojamentos.
Segundo Jasmine, ela conseguia fazer uma calça jeans em aproximadamente meia hora. Nessa fábrica eles recebem por peça produzida. Jasmine conseguia ganhar por hora meio yuan, equivalente a 6 centavos de dólar (isso em 2005).
Se fizermos as contas, se Jasmine trabalhasse os 30 dias por mês, 15h por dia, ela receberia o equivalente a 27 dólares. Apenas desse valor, já dá para claramente você constatar o por que das grandes multinacionais preferirem produzir seus produtos na China e não em outros países.
Desses 27 dólares, as operárias ainda teriam parte descontada do custo das 90 refeições que fizeram.
Num país como o Brasil, se você contratar um operário de forma legal, o custo do mesmo não sai por menos de 600 reais, o equivalente a quase 300 dólares. Ainda que contratasse de forma ilegal, não conseguiria contratar um operário por menos de 300 reais (quase 150 dólares).
Na China há leis trabalhistas, mas segundo o documentário, poucas fábricas as cumprem. São obrigadas a descumprir às leis trabalhistas para poderem concorrer com outras fábricas maiores e produzir jeans aos preços extremamente baixos exigidos pelos clientes.
Segundo alguns entrevistados, o ministério do trabalho de lá não faz muita coisa diante das denúncias. Em muitos casos, os donos das fábricas são pessoas muito influentes, que mexem os pauzinhos para nunca acontecer nada com eles. O dono da fábrica do documentário já foi chefe de polícia e por isso possui muita influência na região.
Diante das denúncias de más condições de trabalho nesses países, muitas empresas mandam inspetores para as fábricas chinesas, para que relatem se há boas condições de trabalho ou não. As empresas avisam antecipadamente aos donos das fábricas, para que se preparem para a inspeção. Dessa forma, os operários são instruídos a mentirem para os inspetores falando que possuem boas condições de trabalho. Se não mentirem, vocês já imaginam o que acontece.
As grandes empresas apenas querem acalmar os seus consumidores e não melhorar as condições de trabalho dos operários. Se essas condições melhorassem, eles não conseguiriam produtos pelo preço que conseguem hoje e isso seria um desastre para o lucro dos mesmos.
Para piorar as condições para os trabalhadores, os chineses não podem se organizar em sindicatos. Os sindicatos são proibidos por lei e eles não possuem o direito de fazer greve. Se isso acontecer, os líderes podem ser mandados a campos de trabalho forçado.
Num país onde os trabalhadores são proibidos de formar sindicatos e de fazer greves, você pode ter certeza de que as condições de trabalho são terríveis.
Os trabalhadoras da fábrica Lifeng trabalham mais ou menos 14 a 15 horas por dia, os 7 dias da semana. Próximo da entrega de um grande pedido, chegaram a trabalhar mais de 20 horas seguidas. Segundo uma das operárias, elas só podiam ir ao banheiro umas duas vezes por turno.
Os funcionários não recebiam pelas horas extras que faziam e quando viravam à noite trabalhando só recebiam um lanchinho grátis, para elas se manterem de pé. Não tinham direito à INSS, FGTS, décimo terceiro ou qualquer outro direito trabalhista que temos aqui. Apenas alguns poucos direitos que temos, os chineses também possuem garantia em lei, mas como já disse antes, são poucas as empresas que cumprem a lei.
Uma prática comum nessas fábricas foi mostrada no documentário, onde Jasmine não recebeu o seu primeiro salário. As fábricas fazem isso para desestimular o funcionário a sair.
Em outro momento, Jasmine sai escondida do alojamento com algumas amigas e ao descobrirem, elas recebem uma multa equivalente a 2 dias de trabalho.
Após alguns meses, há um momento em que Jasmine está se sentindo muito mal e está morrendo de medo de ficar doente. Caso ficasse doente, seria substituída por outra pessoa. Certamente o mesmo poderia acontecer em caso de acidente, gravidez, etc.
Ao ver esse documentário, vi que a China, ao invés de progredir, parece ter voltado mais de 100 anos no passado. As condições e relações de trabalho nas fábricas chinesas são muito semelhantes ao que existia na época da revolução industrial na Europa. Nessa época, os trabalhadores saíram do campo em busca de trabalho nas cidades, onde eram explorados ao extremo, recebiam uma remuneração miserável, praticamente não tinham direitos e viviam nas piores condições possíveis.
Entendo que a China também não é 100% como é mostrado no documentário. Em muitos lugares os trabalhadores devem viver bem, como em qualquer outro país e alguém poderia dizer que estou exagerando muito nesse artigo, apenas pegando um fato isolado na China e querendo atribuir a todo país.
Para não ficar essa impressão, abaixo eu cito os pontos cruciais pra indicar que as condições de trabalho na China não são boas:
1- Na China, por haver abundância de mão de obra, a mesma é extremamente barata, fazendo com que os trabalhadores não tenham muitas opções, ganhando quase o mesmo, onde quer que vá. Se ele se demitir, há uma fila enorme esperando para entrar no lugar dele.
2- Há muito poucos direitos trabalhistas (propositalmente para baratear os custos).
3- Os trabalhadores não têm direito a se organizar em sindicatos.
4- Não têm direito a fazer greve.
5- O PIB do país é de 5 trilhões, mas o PIB per capta (renda média anual da população) é de 3600 dólares por ano: 3 vezes menor que a renda dos brasileiros e 10 vezes menor que a renda dos japoneses.
Para aqueles que têm a sorte de trabalhar numa empresa devidamente legalizada, que pague os direitos trabalhistas corretamente, acredito que a vida não seja tão ruim. Mas a imensa quantidade de chineses que recebem menos que um salário mínimo por mês, desses não posso achar o mesmo.
O que eu vi nesse documentário foi o novo modelo de escravidão introduzido com o capitalismo. No modelo anterior, a pessoa sabia que era escrava. Nesse novo modelo, as pessoas são escravizadas, mas não têm consciência disso. São obrigadas a viver nas piores condições possíveis, são submetidas a todo tipo de humilhação e ainda são ensinadas a pensar que os seus patrões são pessoas muito boas por dar a oportunidade delas trabalharem.
Felizmente no Brasil, após muita luta de muita gente, nós temos muitos direitos trabalhistas. Esses direitos asseguram que nós possamos viver com mais dignidade e sermos menos explorados pelos gananciosos empresários. A parte triste é que toda a estrutura da sociedade ainda é controlada por eles e enquanto isso acontecer, ainda teremos uma longa luta pela frente...
Há muito tempo vemos a China aumentando o seu PIB a taxas muito exageradas, de fazer inveja à qualquer super potência.
Mas por que a China cresce tão a mais que o resto do mundo? como explicar isso?
Há alguns detalhes sobre a China que muitos já ouviram falar:
- A mão de obra de lá é barata.
- A moeda chinesa é propositalmente desvalorizada para favorecer às exportações.
- A mão de obra disponível para a indústria é gigantesca.
- O custo de produzir algo na China é muito menor que em outros países.
O site oficial onde fala sobre o documentário pode ser acessado em: http://www.pbs.org/independentlens/chinablue/
Se quiser ver uma descrição em português do mesmo e quiser fazer o download desse documentário, acesse: http://docverdade.blogspot.com/2010/05/china-blue-2005.html. Há apenas a opção de download via torrent.
Contexto do documentário
O que vi nesse documentário é algo muito triste. A personagem principal é uma adolescente chinesa de 17 anos chamada Jasmine. Ela morava com os seus pais no campo, mas precisou ir para a cidade, conseguir um emprego para ajudar no sustento da família.
Jasmine chega na cidade e está toda esperançosa de conseguir um emprego. Em pouco tempo ela consegue um emprego na fábrica de jeans "Lifeng". Essa fábrica produz jeans que são exportados para vários países do mundo.
Durante meses eles entrevistaram os integrantes da fábrica, coletando depoimentos e acompanhando as relações de trabalho existentes entre o dono e as operárias e também entre o dono e os clientes estrangeiros.
Condições de moradia
A fábrica possuía 750 funcionários. As operárias moravam num alojamento da própria fábrica, que ficava próximo da mesma. Dessa forma, nenhum operário se atrasaria para o trabalho, pois não perderia tempo algum no trânsito, levantando e indo direto para o trabalho.
Jasmine divide um pequeno quarto com mais 12 outras operárias. Várias são menores de idade. Uma das meninas possui apenas 14 anos. Essas menores trabalham com documentos falsos e a fábrica não está nem um pouco preocupada com isso.
A fábrica fornece a alimentação para as operários, mas ela não é gratuita. Cada refeição que eles fazem é descontada dos seus pagamentos, reduzindo ainda mais a pequena remuneração deles. As refeições não vinham temperadas e nem sequer havia um local para comerem. Elas pegavam a comida e iam comer em seus alojamentos.
Remuneração
Segundo Jasmine, ela conseguia fazer uma calça jeans em aproximadamente meia hora. Nessa fábrica eles recebem por peça produzida. Jasmine conseguia ganhar por hora meio yuan, equivalente a 6 centavos de dólar (isso em 2005).
Se fizermos as contas, se Jasmine trabalhasse os 30 dias por mês, 15h por dia, ela receberia o equivalente a 27 dólares. Apenas desse valor, já dá para claramente você constatar o por que das grandes multinacionais preferirem produzir seus produtos na China e não em outros países.
Desses 27 dólares, as operárias ainda teriam parte descontada do custo das 90 refeições que fizeram.
Num país como o Brasil, se você contratar um operário de forma legal, o custo do mesmo não sai por menos de 600 reais, o equivalente a quase 300 dólares. Ainda que contratasse de forma ilegal, não conseguiria contratar um operário por menos de 300 reais (quase 150 dólares).
Leis trabalhistas na China
Na China há leis trabalhistas, mas segundo o documentário, poucas fábricas as cumprem. São obrigadas a descumprir às leis trabalhistas para poderem concorrer com outras fábricas maiores e produzir jeans aos preços extremamente baixos exigidos pelos clientes.
Segundo alguns entrevistados, o ministério do trabalho de lá não faz muita coisa diante das denúncias. Em muitos casos, os donos das fábricas são pessoas muito influentes, que mexem os pauzinhos para nunca acontecer nada com eles. O dono da fábrica do documentário já foi chefe de polícia e por isso possui muita influência na região.
Diante das denúncias de más condições de trabalho nesses países, muitas empresas mandam inspetores para as fábricas chinesas, para que relatem se há boas condições de trabalho ou não. As empresas avisam antecipadamente aos donos das fábricas, para que se preparem para a inspeção. Dessa forma, os operários são instruídos a mentirem para os inspetores falando que possuem boas condições de trabalho. Se não mentirem, vocês já imaginam o que acontece.
As grandes empresas apenas querem acalmar os seus consumidores e não melhorar as condições de trabalho dos operários. Se essas condições melhorassem, eles não conseguiriam produtos pelo preço que conseguem hoje e isso seria um desastre para o lucro dos mesmos.
Para piorar as condições para os trabalhadores, os chineses não podem se organizar em sindicatos. Os sindicatos são proibidos por lei e eles não possuem o direito de fazer greve. Se isso acontecer, os líderes podem ser mandados a campos de trabalho forçado.
Num país onde os trabalhadores são proibidos de formar sindicatos e de fazer greves, você pode ter certeza de que as condições de trabalho são terríveis.
Condições de trabalho
Os trabalhadoras da fábrica Lifeng trabalham mais ou menos 14 a 15 horas por dia, os 7 dias da semana. Próximo da entrega de um grande pedido, chegaram a trabalhar mais de 20 horas seguidas. Segundo uma das operárias, elas só podiam ir ao banheiro umas duas vezes por turno.
Os funcionários não recebiam pelas horas extras que faziam e quando viravam à noite trabalhando só recebiam um lanchinho grátis, para elas se manterem de pé. Não tinham direito à INSS, FGTS, décimo terceiro ou qualquer outro direito trabalhista que temos aqui. Apenas alguns poucos direitos que temos, os chineses também possuem garantia em lei, mas como já disse antes, são poucas as empresas que cumprem a lei.
Uma prática comum nessas fábricas foi mostrada no documentário, onde Jasmine não recebeu o seu primeiro salário. As fábricas fazem isso para desestimular o funcionário a sair.
Em outro momento, Jasmine sai escondida do alojamento com algumas amigas e ao descobrirem, elas recebem uma multa equivalente a 2 dias de trabalho.
Após alguns meses, há um momento em que Jasmine está se sentindo muito mal e está morrendo de medo de ficar doente. Caso ficasse doente, seria substituída por outra pessoa. Certamente o mesmo poderia acontecer em caso de acidente, gravidez, etc.
Conclusão
Ao ver esse documentário, vi que a China, ao invés de progredir, parece ter voltado mais de 100 anos no passado. As condições e relações de trabalho nas fábricas chinesas são muito semelhantes ao que existia na época da revolução industrial na Europa. Nessa época, os trabalhadores saíram do campo em busca de trabalho nas cidades, onde eram explorados ao extremo, recebiam uma remuneração miserável, praticamente não tinham direitos e viviam nas piores condições possíveis.
Entendo que a China também não é 100% como é mostrado no documentário. Em muitos lugares os trabalhadores devem viver bem, como em qualquer outro país e alguém poderia dizer que estou exagerando muito nesse artigo, apenas pegando um fato isolado na China e querendo atribuir a todo país.
Para não ficar essa impressão, abaixo eu cito os pontos cruciais pra indicar que as condições de trabalho na China não são boas:
1- Na China, por haver abundância de mão de obra, a mesma é extremamente barata, fazendo com que os trabalhadores não tenham muitas opções, ganhando quase o mesmo, onde quer que vá. Se ele se demitir, há uma fila enorme esperando para entrar no lugar dele.
2- Há muito poucos direitos trabalhistas (propositalmente para baratear os custos).
3- Os trabalhadores não têm direito a se organizar em sindicatos.
4- Não têm direito a fazer greve.
5- O PIB do país é de 5 trilhões, mas o PIB per capta (renda média anual da população) é de 3600 dólares por ano: 3 vezes menor que a renda dos brasileiros e 10 vezes menor que a renda dos japoneses.
Para aqueles que têm a sorte de trabalhar numa empresa devidamente legalizada, que pague os direitos trabalhistas corretamente, acredito que a vida não seja tão ruim. Mas a imensa quantidade de chineses que recebem menos que um salário mínimo por mês, desses não posso achar o mesmo.
O que eu vi nesse documentário foi o novo modelo de escravidão introduzido com o capitalismo. No modelo anterior, a pessoa sabia que era escrava. Nesse novo modelo, as pessoas são escravizadas, mas não têm consciência disso. São obrigadas a viver nas piores condições possíveis, são submetidas a todo tipo de humilhação e ainda são ensinadas a pensar que os seus patrões são pessoas muito boas por dar a oportunidade delas trabalharem.
Felizmente no Brasil, após muita luta de muita gente, nós temos muitos direitos trabalhistas. Esses direitos asseguram que nós possamos viver com mais dignidade e sermos menos explorados pelos gananciosos empresários. A parte triste é que toda a estrutura da sociedade ainda é controlada por eles e enquanto isso acontecer, ainda teremos uma longa luta pela frente...