domingo, 6 de julho de 2014

Debate sobre vagões exclusivos para mulheres em trens



A Assembléia legislativa de São Paulo aprovou um projeto de lei para criar vagões exclusivos para mulheres em trens. A medida divide opiniões. Resolvi aqui mostrar alguns trechos de um texto de Clara Averbuck da Carta Capital, que se diz contrária à criação desse tipo de vagão. Vou contestar alguns pontos desse texto:

Vagão para mulheres: segregar não é proteger
O deputado Jorge Caruso, do PMDB, acredita que esses vagões ajudarão a evitar o assédio sexual que ocorre nos horários de pico. O Metrô e a CPTM, assim como nós, não aprovam a ideia e, procurados pelo jornal Folha de São Paulo, declararam considerar que a criação dos vagões "infringe o direito de igualdade entre gêneros à livre mobilidade".
Comprar a ideia do vagão separado é partir do pressuposto de que o problema é a mulher e que ela é quem deve ser segregada, enquanto os assediadores ficam soltos por aí. É legitimar que ela é quem provoca o assédio. É dizer que os homens são animais incapazes de civilidade, incapazes de respeito, incapazes de controle.
Esses assédios não têm nada a ver com desejo; tem a ver, sim, com poder e com uma cultura machista. Assédio e estupro não fazem parte de conduta sexual e isso deve ficar claro de uma vez por todas. Se não há consentimento, não é sexo, é abuso.
O vagão não resolve sequer uma parte do problema. E se a mulher estiver no vagão “dos homens” e for assediada, então a culpa será dela? E se ela estiver em outro lugar, a culpa vai ser da roupa? E se ela estiver toda coberta, a culpa vai ser do horário? Não. A culpa nunca é da vítima e não é segregando que se protege.
Seguindo essa lógica do vagão, a culpa sempre será da mulher, pois já que homem é homem e tem instintos, não é responsável por seus próprios atos. [...]
[...]No Rio de Janeiro há essa política do vagões e, adivinha? Não funciona. Os homens utilizam o vagão destinados às mulheres e as mulheres frequentemente precisam usar os vagões “normais”, porque afinal, somos muitas. [...]



A colunista deixa claro que considera a criação desses vagões um retrocesso, ou seja, que será pior com os vagões do que sem eles. Eu discordo disso.

Algo que ela não deixa claro em sua coluna é que os vagões exclusivos são opcionais. Nenhuma mulher é obrigada a entrar neles. Sendo assim, não faz sentido isso de que estão "segregando" as mulheres.

Aquelas que não se sentirem bem em ir num vagão junto com homens podem tranquilamente ir para o vagão feminino. Já as que não tiverem interesse, ficarão nos vagões comuns.

Se em alguns locais, homens estão entrando no vagão exclusivo, é porque falta fiscalização por parte da companhia de trens. Um único funcionário bastaria para proibir a entrada dos homens.

É óbvio que seria muito melhor que houvesse uma fiscalização mais rígida nos trens e metrôs para impedir esse tipo de assédio, mas mesmo que essa fiscalização exista, eles continuarão acontecendo. Os "encoxadores" continuarão se esfregando nas mulheres e muitas delas, por medo não denunciam. Se não há denúncia, não há punição.

Uma foto de um flagra de um passageiro se esfregando numa mulher
Será que algumas dessas mulheres que diariamente são "encoxadas" nesses locais não gostam da idéia do vagão exclusivo? Não seria interessante saber a opinião das usuárias desse tipo de transporte também?

Alguns, como a colunista citada, se colocam contra essa medida com o argumento de que fora dos trens as mulheres continuariam vulneráveis a esse tipo de assédio, nos ônibus, caminhando na rua, no trabalho e em diversos outros locais.

Usar esse argumento é achar que não se deve resolver um problema local, porque no resto do mundo o problema vai continuar existindo. 

Por que separamos completamente os homens das mulheres nos banheiros? Para evitar o assédio e abusos às mulheres nesses locais, é claro. 

Fora do banheiro as mulheres continuarão vulneráveis a esse assédio, mas não é por isso que vamos fazer banheiros mistos. Não é porque não conseguimos mudar o mundo todo que vamos deixar de realizar uma melhoria num pequeno local.

É óbvio que seria ideal que os homens não assediassem as mulheres em local algum. Mas não vivemos num mundo ideal. Vivemos num mundo repleto de problemas e por isso precisamos encontrar soluções para essa realidade.

Que a companhia de trens faça a parte dela e o restante é responsabilidade da polícia, do judiciário, dos políticos, da imprensa, das igrejas, dos pais e de nós mesmos.

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