quinta-feira, 13 de março de 2014

Os médicos não querem mais fazer parto normal?



Quando vi o título da matéria "Casa de parto do SUS atrai classe média", publicada em 9 de março no Estadão, quase não acreditei nessa história. Como algo do SUS poderia atrair a classe média?

A matéria citada fala a respeito de mulheres de classe média, com plano de saúde, que preferem ter seus filhos numa casa de parto do SUS em Sapopemba, na zona leste da cidade de São Paulo.

A razão para essa escolha é que a casa de parto oferece a opção do "parto totalmente natural".

De início não entendi. Pensei comigo: "parto normal não tem em qualquer hospital? Não se faz cesariana apenas quando não é possível fazer o parto normal? Por que as pessoas iriam para essa casa de parto se podem fazer o parto no hospital?". Na matéria é mencionado que alguns médicos não querem fazer o parto normal:
Para a funcionária pública Caroline de Vasconcelos Mateus Maciel, de 26 anos, há desconhecimento em relação ao parto natural. "Passei em quatro médicos durante o pré-natal, todos me recomendaram cesárea e foram contra a Casa de Parto. [...] a maioria das mulheres fica assustada" [...]
Gestantes com esse perfil já representam metade do público atendido na Casa de Parto, [...] "Elas vêm de todos os bairros da cidade e também de outros municípios. Já teve gente de Guarulhos, Sorocaba, Santos. A outra metade é de pacientes do SUS (Sistema Único de Saúde)", conta [a gerente]. [...]  
Mayara fez o pré-natal pelo plano, mas preferiu ter a filha, Aysla, hoje com 2 meses, de forma natural. Na unidade de Sapopemba, o parto é feito por uma enfermeira obstetra, sem interferência. Não há anestesia nem indução de dilatação e é o pai da criança quem corta o cordão umbilical.
 Se por um lado a Casa de Parto tem atraído mais mulheres de fora do SUS, por outro o número total de partos feitos no local vem caindo ano a ano e, hoje, a unidade atende apenas um terço da sua capacidade, de 60 partos por mês. Para pacientes, a resistência de muitos médicos a esse tipo de parto faz com que muitas mulheres desistam dessa opção.
O conselho Federal de Medicina é contra as casas de parto e não recomendam essa opção, alegando que o parto fora de um hospital pode ter complicações. A gerente da casa de parto disse que eles têm uma ambulância 24 horas disponível para levar as mulheres ao hospital em caso de haver alguma complicação. Também diz que lá só fazem partos de gestantes de baixo risco.

Para quem quiser ver a matéria completa, o link está abaixo:
Estadão - Casa de parto do SUS atrai classe média

Depois de ler essa matéria, fiquei pensando comigo se era realmente verdade que tantos médicos se recusavam a fazer o parto normal. Pelo menos eu lembro que no meu tempo de infância (hoje tenho 27 anos) as mulheres faziam partos normais na maioria dos casos e somente recorriam a cesariana quando não era possível fazer o parto normal por conta de complicações que a grávida tinha ou quando a grávida pedia para fazer a cesárea.

Decidi iniciar uma discussão no facebook com alguns dos meus contatos, o que gerou alguns depoimentos interessantes:



Pelo que deu para entender, a realidade em torno dos partos mudou bastante, principalmente na rede privada de saúde. Os relatos de médicos que não querem de forma alguma fazer parto normal são muito comuns. Para eles é muito mais fácil assim, pois fazem 2 ou 3 partos por dia gastando pouco tempo e ganham dinheiro mais rápido. Tudo está girando em torno do dinheiro, para variar. A vontade da gestante fica em segundo plano ou simplesmente não conta.

Um depoimento interessante veio da profissional de saúde Nanda Fontenele, sobre a rede pública de saúde:


Só espero que casas de parto como essa de Sapopemba, mostradas na matéria do Estadão se multipliquem e que aquelas que tenham vontade de ter o parto normal, tenham opções gratuitas e seguras de fazer isso. Fiquei impressionado com o nível de estrutura da casa de parto. Algo assim no SUS é para se aplaudir e muito.

Abaixo alguns gráficos, com as estatísticas sobre os partos normais e cesarianas no Brasil nas redes públicas e privadas. Foram extraídos da seguinte matéria.




0 comentários:

Postar um comentário