domingo, 12 de janeiro de 2014

Jornal da igreja universal associa homossexualidade a drogas, prostituição e promiscuidade

Ontem quando fui na casa da minha sogra, me deparei com um jornal em cima da mesa. Vi que era a "Folha Universal", o jornal da Igreja Universal do Reino de Deus, de 29 de dezembro de 2013. Logo de cara me chamou a atenção a matéria de destaque na capa.


Para os que não entenderam, a capa mostra 3 imagens de pessoas que supostamente mudaram de vida. Um era travesti, uma era lésbica e a outra tinha um visual mais radical. De cara já vi que encontraria uma matéria no jornal que iria me desagradar bastante. Já pressenti bastante preconceito vindo por aí.

Hecton Luan Pina, de 25 anos, comerciante, é um rapaz bonito, independente e cheio de planos para o futuro. Mas no passado, ele decidiu ser Sabrina, uma moça que vendia o corpo para sustentar uma vida de baladas e vícios. "Usava drogas pesadas, como o crack e era viciado em álcool", lembra.
Logo de cara já começa o preconceito. O Hecton "decidiu" ser uma moça. Ao ler isso, se tem a impressão de que a identidade sexual dele era apenas uma questão de escolha, sem qualquer relação com sua natureza. Em seguida já demonstra que o gay citado se prostituía e usava drogas pesadas.


Hecton, que ainda era Sabrina, ficou debilitado pelo uso de drogas. magro, fraco e quase sem esperanças, ele foi salvo de se jogar de um viaduto por um mendigo. "Fui morar em baixo da ponte, onde arrumei um namorado. Esgotado daquilo olhei para o céu e implorei a Deus para ajudar e acabar com a minha dor". Uma semana depois um voluntário da Universal apareceu e conversou com ele [...]
O segundo caso também é de um homossexual que se veste de mulher. Desta vez não usava drogas, mas estava associado fortemente à promiscuidade e sofria muito por ter essa vida.
Luís Paulo da Silva, de 27 anos, era transformista. Ele se vestia como mulher em busca de prazer e diversão. [...] "Eu saía todas as noites e me relacionava sexualmente com qualquer um. Saciava o meu desejo, mas ao mesmo tempo aumentava o meu sofrimento, era um ciclo sem fim.", conta.

[...] para ele, morrer era o destino óbvio de uma vida que não tinha propósito. "Até que um amigo me convidou para ir à Universal [...]"
Um terceiro caso, é de uma lésbica, Dayane, que afirma que ninguém sabia que ela era menina e que ficava com várias garotas. Apesar de sempre estar rodeada de pessoas, ela sentia uma solidão inexplicável. Agora ela sonha em casar e ser mãe. Para finalizar com chave de ouro, no rodapé das fotos de Dayane tem a mensagem "Dayane se via como menino e queria morrer; agora ela é realizada".

Dayane Galdino, 18 anos.
"Um dia, decidi me jogar do alto do sobrado que eu morava. Eu não tinha nada a perder", conta ela. Ela foi impedida de cometer o pior pela mãe do amigo que morava com ela, Maria do Socorro, [...] "Pelo sofrimento acreditei que ela queria mudar. Por isso estive ao seu lado dando apoio. Fui com ela fazer a matrícula na escola [...]", conta Maria. "Ela me escutou, prestou atenção em meu sofrimento e me convidou para ir à Universal", relembra Dayane.
Também é contado o caso de Amanda, que não é lésbica, mas que andava com uma aparência bem fora dos padrões, lembrando personagens de desenho japonês. Depois de mencionar que uma mulher a ajudou, orientando-a a participar de encontros semanais que ensinavam como ter esperança em si mesmo, o jornal mostra a mudança.


Aos poucos a jovem foi abandonando a aparência rebelde, deixou  de frequentar as festas com bebidas, drogas e prostituição para se transformar em uma linda mulher, querida pelos amigos, que dessa vez, garante ela, são sinceros. "Não aguentava mais aquela vida. Meus amigos daquela época tinham raiva de Deus e usavam as páginas da bíblia para cheirar cocaína. No meu interior queria sair daquela vida".
O que dá para concluir disso tudo o que foi mostrado no jornal da igreja Universal? Para mim, claramente, uma das intenções dos que fizeram essa matéria era mostrar que o caminho da homossexualidade não deve ser seguido de modo algum. Nos 3 casos de drogados, todos eram homossexuais e nos 3 casos, após se livrarem das drogas e das más companhias, eles também supostamente teriam se livrado da homossexualidade. Talvez a mensagem nas entrelinhas fosse outra: ao se livrar da homossexualidade, todos os outros males foram embora da vida dessas pessoas.

O interessante no caso da amanda, é que associam a aparência rebelde novamente à convivência com drogas e prostituição. O recado é claro: "Jovens! não tenham esse tipo de aparência. Isso é coisa de drogados. Vocês tem de se vestir como todo mundo, dentre dos padrões. Vocês querem ter o mesmo futuro dessa menina?". Um pai ou mãe dessa igreja que ler essa matéria, poderá ficar bem preocupado se ver um de seus filhos com uma aparência fora dos padrões.

Se percebe claramente a não aceitação da homossexualidade na igreja Universal. Os 3 homossexuais da matéria certamente não seriam retratados no jornal se após terem abandonado as drogas ou a prostituição tivessem mantido sua sexualidade exatamente como antes. Seria como se a "transformação" deles não estivesse completa ainda. E o mesmo posso dizer sobre a Amanda. Talvez não fosse retratada, se após se livrar das más companhias, tivesse mantido a mesma aparência.

Eles provavelmente jamais vão ter vontade de mostrar gays bem sucedidos, monogâmicos, felizes, de bem com a vida, realizados pessoal ou profissionalmente. Isso não interessa a eles. O legal é mostrar os gays como seres decadentes, promíscuos, que logo estarão no caminho das drogas, da prostituição e do crime. Dessa forma, orientam as pessoas a rejeitar qualquer tipo de convivência com gays.

Enquanto persistir esse tipo de mensagem de rejeição aos gays por parte das igrejas, a eliminação do preconceito será muito difícil e a convivência dessas pessoas em sociedade continuará repleta de conflitos.

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